É impressionante o fato de que os turistas ainda não descobriram o povoado fantasma de Villa Epecuén. Na província de Buenos Aires, a cerca de 600 km da capital, a cidade era um famoso balneário de águas curativas na década de 80, às margens do Lago Epecuén.
Os primeiros moradores e visitantes chegaram a Epecuén por volta de 1920. O pequeno e calmo vilarejo foi se transformando em um balneário turístico. A população da cidade atingiu o seu pico na década de 1970, com mais de 1.500 habitantes. Cerca de 300 empresas cresceram no local, incluindo hotéis, pousadas, spas, lojas e restaurantes.
O Lago Epecuén tem um nível de sal tão alto que perde apenas para o Mar Morto, em Israel, chegando a ser dez vezes maior do que qualquer oceano. Com um pouco de receio, eu provei a água e, realmente, é puro sal! As minhas mãos ficaram ressecadas e com uma camada de pó branco até eu conseguir lavar as mãos.
Os poderes terapêuticos do Lago Epecuén foram famosos por séculos. Costumava-se dizer que as águas do lago poderiam curar depressão, reumatismo, doenças de pele, anemia e até mesmo tratar a diabetes.
A lenda de Epecuén e o mistério das águas salgadas
Em novembro de 1985, uma mudança climática rara fez com que chovesse mais do que o habitual na região e uma barragem que protegia a cidade explodiu. Devido à falta de drenagem, o o volume de água do Lago Epecuén começou a crescer rapidamente. A cidade ficou sob quatro metros de água e, progressivamente, foi se tornando inabitável. Em 1993, a água havia subido 10 metros e o vilarejo foi completamente destruído.
Quase 25 anos depois, em 2009, as águas começaram a baixar e o que restou de Villa Epecuén começou a aparecer. Até hoje, a aldeia não foi reconstruída e o único morador que voltou para casa quando as águas recuaram foi Pablo Novak, de 81 anos.
Procuramos Pablo por lá, mas algumas informações, um pouco desencontradas, nos levaram a crer que ele faleceu em 2011, sem ver seu sonho realizado: a reconstrução da vila. Aliás, não encontramos quase ninguém. Vimos apenas quatro turistas visitando as ruínas. Entre eles, um casal de senhores argentinos, que parou para conversar com a gente e nos contou que na década de 80 sempre iam passar as férias no lago e, depois que águas baixaram, voltam ao lugar todo ano para matar a saudade. Por um momento, envolvidos naquele ambiente fantasmagórico, chegamos a desconfiar que os dois velhinhos eram almas penadas, mas fizemos um registro para provar que não estávamos loucos!
Hoje, após o recuo das águas, só sobraram ruínas e lembranças de um passado distante. A paisagem que vemos ao chegar é repleta de árvores secas, que morreram devido à enchente de água salitre do lago. A primeira ruína que encontramos foi a do Matadouro Municipal.
Alguns quilômetros após o Matadero, chegamos ao centro da Villa Epecuén. Essa é a avenida principal.
O cenário é pós-apocalíptico, reúne carcaça de automóvel, escada que não dá em lugar algum, parque inundado, garrafas antigas espalhadas, esqueletos de antigos hotéis e construções que parecem que irão desabar a qualquer momento. As ruas são tomadas por lama e algumas delas são embranquecidas devido ao sal do lago.
Aqui funcionava o maior resort da região. O escorrega da piscina resistiu e ficou em pé.
Na saída da Vila paramos para fazer algumas fotos e um morador de Carhue, cidade vizinha, começou a puxar assunto com a gente. No meio do papo, o homem nos contou que o alagamento da vila teria relação com o golpe militar da Argentina.
Golpe Militar na Argentina: o início do fim de Epecuén
A entrada no lugar é livre, não se paga nada, e é possível adentrar os imóveis em ruínas. A frequência de turistas é muito baixa e não há nenhum tipo de guia ou guarda no local. A Villa Epecuén é, realmente, um cenário pra deixar qualquer um de boca aberta.
wordpress theme by initheme.com
4 comments. Leave new
Olá.
Já viajei por lugares bem fora do roteiro turístico da Argentina e muito bonitos, mas esse não conheço.
Gostei muito de saber da história de Epecuén e, sem dúvida, de seu cenário pós-apocalíptico, como você disse.
Obrigada por compartilhar viagens diferentes e bem interessantes como essa!
Abraço.
Cristina
Que legal ler isso, Cristina! Fico muito feliz que tenha gostado do post! Eu descobri Epecuén nas minhas pesquisas pela internet e fiquei alucinada pra ir. Não tinha nenhum passeio que nos levasse até lá, mas fui até uma agência, insisti pra que eles fizessem esse tour com a gente e eles toparam. De qualquer forma, dá pra ir até Carhue, cidade vizinha, de ônibus, sem precisar de passeio, mas nesse caso é necessário passar uma noite, o que eu acho totalmente recomendável. Carhue é muito simpática e o bate-volta bastante cansativo!
Se for, me conte se gostou! =)
Abs
muito bacana. parabens.
Que bom que gostou, Leo. Obrigada! =)