*por Jaqueline Moraes
Há certos lugares no mundo com os quais temos uma relação muito estranha. Sempre ouvimos falar, nos sentimos quase íntimos, mas nunca fomos e nem conhecemos ninguém que tenha ido. O Deserto do Saara é um deles!
Crescemos vendo filmes com oásis e miragens. Caravanas do deserto… o Pequeno Príncipe caiu lá, mas quem conhece? Eu decidi conhecer. E fui para o Marrocos focada nesta missão. Saí no Brasil com uma agência meio que acertada. Mas lá, mudei os planos. Por quê?
Eu teria que ir sozinha, de busão, de Marrakesh até a cidade de Merzouga (a porta do deserto pelo país). Lá, meu guia me encontraria. Este trajeto levaria quase 12 horas. Passeando pelas ruas da cidade, onde há muitas agências de turismo, achei um lugar que fazia 3 dias, com pensão completa por 180 reais. Nem titubiei! Simbora!
O motorista me pegou no hostel, às 5h30, e pude ouvir o som das mesquitas chamando os islamitas para rezar. O sol ainda não nasceu, mas aquele som lindo ecoa pela cidade, numa prece solitária e hipnótica. Todas as mesquitas têm autofalantes que, a partir das 4h da manhã, já chamam os fiéis para rezar. Amei isso!
Mas, voltando ao deserto, é muito interessante ver como as paisagens do Marrocos podem ser diversas e uma viagem de van, pelo interior do país, te permite viver isso. Passando pelos subúrbios de Marrakesh, saindo da cidade, subindo o que poderíamos chamar de “serras” com suas altitudes de 3000 metros com picos nevados. Sim, era maio e tinha neve lá em cima!
Na neve me senti no Nepal, numa paisagem muito similar. E, no meio daquelas “serras”, a gente dá graças a Deus pelos marroquinos não consumirem álcool. Um acidentezinho naquelas curvas, é PT no carro e PT na tripulação do carro ou ônibus. Vai todo mundo pro Saara do Céu!
Os marroquinos têm dois tipos de deserto: o grande e o pequeno. O grande, bem, é o Saara. E o pequeno, que eu nem sei se geograficamente pode ser considerado assim, é um terreno árido, cheio de pedras em solo duro. Um solo arenoso, mas que não é areia. Uns montes, mas que não são dunas: les goges de Dades, o nome. No verão, contam que a temperatura pode passar dos 55 graus… Acreditooooo! E eles se orgulham de ser um lugar onde Hollywood já gravou seus filmes (Gladiador passou por lá).
Confesso que faz um calor da P#@rra mesmo! E eu sem cerveja. Mas vale pela aula de diversidade de clima. Hawai me salvou. E foi muito legal ver aquelas casas feitas de uma mistura de barro com palha. Eles montam uns tijolos bem duros e firmes. Há também paredes inteiras na técnica de fazer a massa sobre uma estrutura de madeira entrelaçada. O Marrocos ou é vermelho ou é marrom. Esta é a cor da arquitetura local.
E bora na direção do deserto. Mas antes uma passadinha estratégica no Projac do Marrocos. Atores de Hollywood, na verdade, param ali para gravar as cenas de deserto. Há estrutura. Huum, bem que eu desconfiei que o Russel Crowell ia dar piti gravando em 55 graus a sombra (mesmo sendo australiano, é demais para qualquer coração).
Dormimos num hotel bem limpinho e experimentei a alegria de uma cama de casal. Neste lugar, tinha cerveja e pude me servir à vontade. Depois de dias de abstinência, foi uma miragem. Na mesa do jantar, couscous! Adoro este sabor local, cheio de legumes e cheirando a massala. Se é parecido com o que comemos por aqui e que juram ser marroquino? É claro que não! O deles é mais soltinho, menos salgado e com mais legumes. Sem frufru.
Na manhã seguinte, acordar cedo, pegar a mala e seguir para Merzouga. E lá: o grande deserto. E o Marrocos não para de me surpreender. No meio do caminho, cânions! Aguinha corrente, homens e mulheres de túnicas e todo mundo se resfrescando. Tinha uma menina muçulmana no nosso grupo se molhou, mas não tirou o lenço. Para se refrescar, ela jogava agua por cima da cabeça. Achei sofrido pelos padrões ocidentais. Mas respeito a atitude e entendi que essa é a cultura dela.
E chegamos em Merzouga… Mas isso é assunto para um outro post!
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