Quando você sai de Veneza, a impressão é de que nada mais no mundo vai te encantar. As horas no trem chegam a ser melancólicas, bate aquela tristeza e vem o arrependimento de não ter dedicado mais dias do roteiro à cidade. Aí… Bom, aí você chega a Florença e todas as suas esperanças se renovam. Ela é tão bonita quanto Veneza? Hum, acho que não. É tão romântica quanto? Talvez não. Mas destinos de viagem são como filhos: não dá pra escolher o favorito, né? E eu te conto por quê.
Conhecer Florença era um sonho antigo. Não sei se começou nas aulas de história da arte, se vendo algum filme de espiões com perseguições pelas ruelas da cidade, ou se assistindo a documentários insossos no History Channel. O fato é que, quando você fica sabendo das histórias dos pintores renascentistas, do mecenato, dos castelos… Isso é tão distante da realidade do nosso dia a dia no Brasil que você pensa só ser possível conhecer a cidade em sonho, mesmo.
Então o trem chega à plataforma da estação Santa Maria Novella e o sonho começa a virar realidade. Reservamos um hotel próximo à estação, mais pelo preço do que pela localização. O lado bom disso é que você já chega na cidade e tem um contato real com ela. Ao invés de se meter atrás da janela de um táxi com ar condicionado para ir ao seu hotel, vai caminhando, sentindo o chão, o cheiro e o clima do lugar.
O hotel era daqueles de filme noir: um neon na parte externa do prédio, uma velha porta de madeira e uma escada rangente cheirando a mofo que levava à recepção. Um senhor italiano nos atendeu com o tradicional inglês macarrônico e nos mostrou o quarto, simples porém confortável. Largamos as malas e saímos para explorar as redondezas, já que o horário avançado não nos permitia fazer programas turísticos muito elaborados.
O destino não raro nos presenteia com “bares favoritos” em muitas cidades que visitamos. O nosso de Florença estava a duas quadras do hotel: o Birrería. Era uma espécie de pub que tocava rock, vendia hambúrgueres, batatas fritas e uns pratos mexicanos. E, é claro, várias marcas de birra (cerveja, em italiano). Nada de mais, nada a ver com a mística da cidade, mas senti que, caso fosse eu um cidadão florentino, aquela seria minha segunda casa. Se o Hemingway tinha o La Bodeguita del Medio, eu teria o Birrería. Um daqueles casos de amor à primeira vista que a Naná compreende e até apóia – fomos lá nas duas outras noites que ficamos em Florença.
O dia seguinte começou cedo, após a profunda noite de sono proporcionada pelas birras. Desbravemos o centro histórico, pois história é o que Florença tem de melhor. Logo no portal da Città Vecchia, uma manifestação a favor da causa palestina. Ponto a favor! Mais alguns passos e encontramos vários exemplares de uma paixão recém-adquirida: as gelatterias! Eu nem tinha visto nada relacionado a história ou arte e já caía de amores pela cidade.
Aí começou o turismo de fato: caminhamos até o Duomo. Para chegar lá, nem precisa de mapa. O domo da catedral é tão grande que pode ser avistado de praticamente qualquer ponto da cidade. Pedimos licença aos grupos de turistas asiáticos, passamos por um par de carabinieri – sim, os policiais de lá são exatamente como os dos filmes – e observamos por alguns instantes a grandiosidade da obra, que começou a ser construída lá no finzinho da Idade Média. Mas quem quer saber a história da Santa Maria del Fiore (esse é o nome oficial da popular Duomo de Firenze) pode consultar os livros, o History Channel ou a Wikipedia. A intenção aqui é fazer um relato pessoal da passagem pela cidade. 😊
Seguimos pelo centro histórico até a Piazza della Signoria, praça central da cidade, onde está localizado o Palazzo Vecchio, sede do governo local. A torre do palazzo, que se assemelha às que víamos nos filmes sobre o Rei Arthur, e as estátuas espalhadas por toda a praça parecem querer te levar ao passado. Mas aí você vê turistas embarcando em carruagens para fotos e volta logo ao presente. Aquilo, no século XV, devia ser fantástico. Atualmente, dada a quantidade de turistas – não sejamos hipócritas -, é meio sacal.
Logo depois, no entanto, veio a cereja do bolo, o lugar mais aguardado: o lendário Rio Arno. Debrucei-me sobre a mureta em uma das margens do rio e fiquei ali imaginando Botticelli, Leonardo, Donatello ou qualquer outro dos Tartarugas Ninja se inspirando naquelas paisagens para suas obras. Um passeio ao longo do rio, observando em suas águas o reflexo das casinhas amareladas na margem oposta é um programa tranquilo e delicioso.
Por ali também está a Ponte Vecchio, construída no período medieval e cheia de lojas de ourives vendendo suas jóias. Num cantinho da ponte, não faltam os cadeados deixados por amantes do mundo todo celebrando o amor eterno. O lugar é ideal para fazer uma declaração e presentear o(a) parceiro(a) com um item de ouro. Naaaah, muito caro, muito brega. Hora de ver a cidade de cima!
Agora me ocorre que, em Florença, não usamos nenhum tipo de transporte além das nossas próprias pernas. E as coitadas foram bem exigidas para chegarmos até a Piazzale Michelangelo (olha mais um Tartaruga Ninja aí!), localizada na parte alta da cidade. Muitas ladeiras e degraus foram superados para alcançarmos o mirante. Fazia calor e atingimos o topo já exauridos. Bela desculpa para um gelatto! A piazzale não tem nada de mais, é apenas um lugar alto de onde se tem uma bela vista – e que vista! – da belíssima Florença.
Ali vimos os artistas de hoje em dia praticando sua arte. O que nos pareceu uma turma de estudantes de artes fazia suas ilustrações com carvão, reproduzindo o Rio Arno, a Ponte Vecchio, a torre do Palazzo Vecchio, o monumental Duomo… Quem sabe dali sairão obras que vão inspirar outros sonhadores a conhecer esses lugares pelos quais acabáramos de passar? Uma sensação boa tomou conta de nós. 😀
Partiu Birrería? O dia seguinte fica para o próximo post.
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Tô aqui a todo vapor planejando a minha viagem a Itália e me deparo com seu post, ótimas dicas, parabéns! E as fotos também estão demaaaais.
Que demais, Amilton! Tomara que tenha sido útil! Obrigado e curta bastante 🙂
Ohhh adorei o post, as fotos são lindas e a deprê pós Veneza pode ocorrer em outros lugares lindos do mundo né? Eu sempre tenho…. 🙁
Sempre bate aquela saudade de um lugar maravilhoso que a gente conheceu! rs
Ahhhh Florença.. minha cidade preferida da Itália. Seu post e as dicas estão ótimas. =)
Realmente é uma cidade lindíssima! Adorei o post e principalmente a definição “destinos de viagem são como filhos: não dá pra escolher o favorito, né?” Parabéns pelo post está maravilhoso!
Muito obrigado, Itamar! É realmente muito difícil escolher o favorito!
Ai, que delícia ler este post. Me fez matar um pouquinho a saudade de Florença, onde estivemos em 2014. Ah, lugar maravilhoso, assim como toda a Toscana. Adorei as fotos. Parabéns!
Muito obrigado, Michela! Fico feliz que o post tenha te trazido boas memórias! 🙂
Estive em Florença tão rapidamente! Não deu pra aproveitar sequer metade de tudo de lindo que você mostrou! Certamente voltarei para aproveitar melhor! 🙂
É uma boa ~desculpa~ pra voltar com certeza! ahhaha
oh! Você tocou em um dos meus pontos fracos. Tenho verdadeira adoração por Florença! A comparação com Veneza não vale (as conheci em viagens distintas) pois cada uma é musa à sua maneira e ambas estão no pedestal de cidades fora do comum, em minha opinião.
Voltei de maneira emocionada à esta cidade que considero meio mágica, através de seus passos… Que delícia voltar a caminhar por ela e sentir sua atmosfera! Essa cidade velha e descascada mora em meu coração porque me proporcionou momentos adoráveis de arte, cultura, história, belas paisagens, arquitetura e muita poesia… Obrigada, de coração, por me levar de volta! 🙂
Que mensagem linda! <3 Realmente é difícil comparar, é mais questão de gosto e da experiência que a gente vive no momento, né? Mas Florença é, realmente, puro charme!
Adorei o post!!!
Mas tenho que dizer que senti muito mais pena de ir embora de Florença (tá, sou suspeita porque casei lá, né?) do que de Veneza. Além do motivo romântico, Florença é o berço do renascimento né? Quase um museu a céu aberto!
Beijão!
Ah!!! Você é suspeita, mesmo! hahaha… Casar em Florença é outro nível! <3
Bjs!
Amei o seu relato e suas fotos! Sua escrita é leve e divertida. Ri alto com o “qualquer outro dos Tartarugas Ninja” hahaha
Não conheço Florença ainda, e adorei ter um gostinho junto com sua viagem 🙂
bjos
Obrigado, Laura! 😀 Florença é realmente uma delícia! Fico feliz que tenha conseguido viajar um pouquinho com a gente. 🙂
que delicinha de post! adorei como fez a narração..eu estou suuuper empolgada pra minha viagem a italia e florença é a cidade que mais quero conhecer! muita historia e arte num lugar só!
É verdade, Angela! Florença tem muita história pra contar!
Que delicadas suas fotos! Adorei!
Conheço partes da Itália mas, infelizmente, não tive a oportunidade de ir a Florença!
Excelente post! Parabens
Muito obrigado, Ana! Quando tiver oportunidade vá. Florença é linda demais! 🙂