*por Jaqueline Moraes
Não se iluda! Para nós brasileiros, o Nepal será, sem dúvida, um dos países mais caóticos em que já estivemos. Mas… será também um grande caso de amor platônico e eterno!
O Nepal me obrigou a passar pela Índia e voar por um avião muito estranho da Nepal Airlines (imaginem a estrutura). Colei na janela: os Himalaias… as plantações em forma de platôs, vales, vales, vales… montanhas cada vez mais altas.
Cheguei a Kathmandu e pensei estar na Cidade de Deus, favela do Rio de Janeiro. Um monte de prediozinho “coladinho”, padrão 4 andares, azulejados. As ruas não têm calçadas, trânsito louco. É outro mundo. O nepalês é chinês, indiano, mongol, árabe. Ele é uma salada de frutas de etnias. Não tem uma cara, nem um jeito. E isso é muito legal pelo ponto de vista de diversidade asiática. Tudo vai fluindo no cotidiano.
Não há luz para todo mundo. Anoiteceu e andar na rua é um desafio. Quem tem dindin, usa gerador. E não me perguntem sobre saneamento: não faço a mínima ideia. Não há supermercados e os produtos ocidentais industrializados são uma fortuna: um pacote de biscoito pode custar uns 15 reais! Achei maravilhoso isso. Bora valorizar as coisas locais e simples, com menos gordinhos na população!
Entre os prédios no estilo Cidade de Deus, estão as belezas ancestrais, aquelas que foram construídas com tijolos vermelhos e madeira marrom bem escura. São quadrados com uns dois ou três andares, janelas pequenas, telhados piramidais. Aquilo que vemos em filmes. E há templos, templinhos e templões. Tem sinos e não há um segundo que não estejam sendo tocados pelos nepaleses, o povo mais espiritualizado que já vi. Eles tocam o sino, entram, tocam o sino, saem, tocam o sino, quando passam na rua. Jogam pétalas de flores. É um cheiro de incenso e flor… incenso e flor… e toca o sino!
Foi na Dubar Square, hoje com parte de seus templos destruída, que tive a oportunidade de comer um doce de leite aerado enrolado numa mão suja de um doceiro e colocado num jornal rosa como se fosse guardanapo: o mais gostoso que já comi. Bebi cerveja Everest admirando as bandeirolas com orações escritas que enfeitam as ruas.
De lá, segui para Pokhara de ônibus. Vi os despenhadeiros e fui chegando cada vez mais perto da neve. As montanhas gigantes vão aparecendo na medida em que nos aproximamos delas. Eu achava que era diferente. Que, de longe, elas surgiam, como um Dedo de Deus. Não. Lá, para vermos algo com seis mil metros, precisamos subir 3500. E assim por diante. Escolhi ver o Machapuchare… 6993 metros de altura. E foi Deus!
Até lá, são muitos e muitos degraus. Eu acreditava que seria uma trilha. Nada disso. Os caminhos aparecem no meio das escadas, haja joelho para subir e admirar pequenas vilas, velhos e crianças: diversidade. É um povo forte, onde senhoras carregam cestos com legumes de uns 100 quilos.
Eu os achei tão felizes na sua realidade que, para nós, parece pobreza. Mas é simplicidade. Apenas isso. É um retorno ao que importa e o que importa é viver, nada mais. Lembro que uma nepalesa, de uma casa onde me hospedei para passar a noite, vivendo como ela, riu de mim por ter 33 anos, na época, e nenhum filho. Ela tinha a mesma idade e 4 crianças.
Foi na varanda da casa desta mulher, casada com um mongol de quase dois metros de altura (nunca tinha visto um chinês tão alto – assim são os mongóis) que vi o Machapuchare. É algo tão indescritível que só vendo mesmo para dizer. Todo aquele gelo, onipresença, poder.. Uau! Hipnotiza. O gelo solta fumaça e, assim q cheguei, ele estava encoberto. Mas quando apareceu, no fim da tarde, não sabia se eu chorava ou ria. Melhor ficar de joelhos para a natureza.
Voltando de lá, Kathmandu para uns dias finais. Subir até o templo dos macacos (onde tem o templo com os olhos que parecem estar vivos), Bhaktapur (uma cidade medieval nepalesa que era, até o terremoto, super bem conservada), pegar busão (os nepaleses têm altura mediana e a minha cabeça batia no teto), tuktuk (puxado por bicicleta). Tudo muito barato. Momento de brasileiro ser rico. Tudo diferente, o real significado de mudar de realidade.
Assim que tudo acalmar, dê um pulo lá, se quiser. Sei que muitas pessoas perderam suas vidas, mas morrer naquele lugar, é chegar mais rápido ao céu. É muita vida, muito mundo, muito Nepal!
wordpress theme by initheme.com