Quando se pensa em Camboja, talvez por culpa do casal Brangelina e outras celebridades que adoram adotar órfãos mundo afora, a imagem que vem à mente é a de crianças carentes em um lugar remoto e subdesenvolvido. Sim, o país é bastante pobre e tem os seus – muitos – problemas, mas se engana quem pensa que o Camboja é apenas isso.
Aterrissamos em Siem Reap por volta das 21h de uma noite quente, tomamos um táxi até o hotel (US$ 7) e saímos para andar um pouco pela cidade e jantar. De cara, tudo pareceu bem mais moderno do que eu esperava. Não achava que encontraria um lugar intocado, mas confesso que fiquei um pouco decepcionada com o fato de a cidade ser tão bem preparada para o turismo (o que pode ser um ponto positivo para muita gente).
Para se ter uma ideia, nós não precisamos trocar um centavo por lá. Absolutamente todos os lugares aceitavam dólar, desde a birosquinha até o restaurante mais badalado, passando por mercados, agências de turismo etc. Se você for como a gente, que gosta de levar de lembrança notas e moedas dos países visitados, troque apenas o que quiser guardar.
Em relação a hospedagem, além das centenas de albergues espalhados por todos os cantos, a cidade tem vários hotéis de ótima estrutura por preços super pagáveis. Ficamos em um bem bacana, o MotherHome Inn, por U$$ 30 a diária para casal. Assim que chegamos, fomos recebidos com um suco de tangerina com tamarindo delicinha e ainda nos ofereceram toalhinhas úmidas e geladinhas para refrescar e higienizar as mãos.
Na frente do hotel tinha um ponto de tuk tuk, que cobrava US$ 2 para nos levar até o agito da cidade, mas preferimos ir andando até a área do mercado antigo (tanto para economizar quanto para sentir melhor o clima do lugar).
Depois de uns 10 minutos de caminhada, fiquei ainda mais impressionada! A região central é super agitada e concentra diversos mercados noturnos que vendem de tudo: artesanatos, jóias, lembranças, roupas e comidas típicas. Uma noite extremamente pulsante, agitada, cheia de cores, sons, cheiros…
É nessa área que fica a Pub Street, uma rua famosa pelas inúmeras opções de bares, pubs, restaurantes e boates descolados. Mas, claro, todos esses lugares são frequentados quase que exclusivamente por gringos. Para quem quer conhecer gente de vários lugares do mundo, beber e conversar, não deixa de ser um bom lugar, mas eu, particularmente, prefiro algo mais “raiz”. Por lá também é possível encontrar diversas casas de massagens, com espreguiçadeiras espalhadas no meio das calçadas. Tem até aquele fish spa, onde os peixinhos comem a pele morta acumulada dos pés, sabe? As massagens custam entre 1 e 10 dólares, dependendo do tipo e do tempo de duração. E vários lugares ainda dão uma cervejinha de bônus!
Fugindo um pouco da badalada Pub Street, encontramos vários restaurantes simples, esses mais frequentados por locais, que servem comida típicas de lamber os dedos, literalmente. Como na maioria dos lugares da Ásia, no Camboja a boa é comer com a mão. Eu não me fazia de rogada e me jogava nas asinhas de frango, nos spring rolls (muito mais gostosos do que os que servem aqui!) e em todas aquelas frituras maravilhosas, que certamente me fizeram perder um ano de vida por dia.
Meu estômago, que costuma ser bastante resistente, já estava pedindo socorro, mas eu gosto de desafiar o perigo e não resisto a uma comida gordinha. A maior parte dos pratos do Camboja tem como base o arroz e em quase todos os lugares os Lok Lak dominavam o cardápio. O prato é feito de arroz, legumes, ovo frito e alguma carne, que pode ser de frango, porco ou boi. Eu só sei que o Fabiano e eu comíamos entrada, prato principal, saída e o que mais colocassem na nossa frente, além das cervejas, e gastávamos cerca de US$ 15 OS DOIS. Não foi à toa que engordei 4 kg em dois meses de viagem. Se você é uma pessoa saudável, não se preocupe, não irá passar fome. Além dos diversos pratos feitos com legumes, não é difícil encontrar restaurantes especializados em outros tipos de cozinhas.
Só não espere encontrar muito conforto nesses restaurantes mais baratinhos. Tudo é meio que improvisado, como se fosse uma grande barraca montada na calçada com mesinhas e cadeiras ao seu redor. O calor é forte, muitas vezes a comunicação não é fácil e o gestual prevalece, mas a simpatia do povo cambojano deixa tudo leve e agradável.
Aliás, é incrível pensar como esse povo, que viveu tanta coisa triste, consegue ser sempre tão gentil e ter aquele sorriso sincero estampado no rosto. Durante três décadas de conflito entre o Khmer Vermelho e os diversos governos, mais de 60 mil pessoas foram vítimas de explosivos e sofreram algum tipo de amputação. O Camboja é um dos países com maior concentração de minas terrestres do mundo! Pelas ruas é comum encontrar um grande número de mutilados vendendo livros, artes ou fazendo pequenos trabalhos. Alguns deles se tornaram músicos de rua e vivem da venda de seus discos e do que ganham com as apresentações. Um senhor de cadeira de rodas nos contou que havia sido soldado e perdeu as duas pernas durante um conflito. O governo, que deveria oferecer ajuda financeira a essas pessoas, simplesmente as abandonou às suas próprias sortes.
Parte da herança desse passado recente de guerras civis é a pobreza de grande parte da população. Apesar das pessoas em geral serem extremamente honestas e amáveis, alguns tentam se aproveitar da compaixão do turista para ganhar um dinheiro fácil. Foi assim que quase caímos no golpe do leite. Uma menina, com uma criança no colo, nos abordou dizendo que precisava comprar leite para o seu irmãozinho e nos levou a um mercado próximo. O leite custava nada mais nada menos do que U$$ 30! Dissemos que não tínhamos tanto dinheiro, mas que queríamos ajudar de alguma forma. Ela começou a reclamar, disse que precisava ser aquele e não queria aceitar outra coisa. Logo em seguida chegou um casal de brasileiros com outra mulher com um bebê no colo, na mesma situação. Foi aí que percebemos que se tratava de um golpe e, provavelmente, havia um acordo entre o mercado e essas cambojanas para faturar em cima dos desavisados. No fim, as mulheres saíram de cara feia e batendo a porta, #xatiadas porque não conseguiram nos enrolar.
Apesar desses contratempos e das histórias tristes, acredite, o Camboja não é um lugar para se fazer turismo de exploração da miséria. Além do seu povo encantador, o país tem uma riqueza cultural e natural indescritíveis, mas isso é assunto pra outro post! O fato é que saímos de lá cheios de ensinamentos, com o coração mais cheio de amor e com a alma leve.
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